Por elaine tavares
Na Rádio Campeche o outono chegou com poesia. No dia 22 de março
aconteceu o Primeiro Ecopoético, um adorável ajuntamento de pessoas e poemas. A
ideia era celebrar o equinócio com aquilo que é o melhor alimento para o
espírito humano: poesia. Foi armado um palco embaixo das árvores, com microfone
aberto para quem quisesse dizer a palavra que lhe queima o peito. E os poetas
foram chegando, na tarde que já prenunciava a mudança de tempo, típica da
virada da estação. Vieram como seus
poemas, uns silenciosos, outros buliçosos, outros ferventes de paixão, uns
delicados como cristais, outros carregados de dor, uns miudinhos, outros
largos. Foi um caldeirão de gentes e de palavras bem-ditas, acompanhado de
abraços, beijos, olhares, silêncios, risadas.
E quando aqueles poemas, juntados desde os mais diversos lugares do
Brasil, começaram a se dizer, o vento sul – nosso poema maior – baixou com
vontade, levantando a saia das moças, desfazendo os cabelos, espalhando as
folhas outonadas pela chão. Um bailado de bruxas acompanhou o revirar das
coisas, colocando no Ecopoético a marca dessa cidade tão linda, herança dos
Guarani que a chamaram de Miembipe em tempos tão distantes. E, com o vento
sul, veio o canto da senzala, o cheiro mineiro
do pandiqueij, o sotaque gaucho, o chiadinho manezês, o espanhol da Costa Rica,
o negrume do carvão, as canções daqui e de alhures, o som do sax, o violão,
quimeras, araras, araucárias, fotógrafas, fotógrafos, contadores de história,
contistas, crianças, curiosos.
Então, na tarde, de frio e vento, a poesia ecoou, embalando cada
coração. Poemas de luta, eróticos, de amor, poemas antigos, novinhos em folha,
inventados na hora. E os poetas foram se conhecendo, se tocando, sentindo a
emoção do encontro real, da vida pulsante. Muitos deles haviam se conhecido
apenas no mundo virtual, internético e, agora, amalgamavam amizades e
sentimentos. A noite chegou bem de mansinho, encantada com os poemas e o
encontro foi se desfazendo, “despacito”, já eivado de saudade.
Os responsáveis pela arrumação, Glauco Marques e Bianca Velloso, eram só
sorrisos. Tudo correra como tinha de ser. Até o vento e as bruxas, convidados
de honra, entoaram seus cantos de amor. Agora eles começam outro momento do
Ecopoético. Vem a hora de juntar as palavras que ressoaram na tarde, fazer com
elas um livro de belezas, e preparar o segundo encontro de poemas e poetas. Porque
naquela tarde de ventusuli, foi tecida uma rede, tal qual a tarrafa que pega o
peixe no mar. Pessoas se encontraram, corações se reconheceram, almas se
costuraram.
Da praia do Campeche a rede vai
se espalhar, pescar outros poetas, amealhar outras palavras e poemas. E
retornar, num outro outono, ou na primavera, ou no inverno, ou no verão... Não
importa a estação. Em outubro, logo ali, quando o verão começa a acenar, Novo Hamburgo chamará os poetas... E eles, e elas, irão!